terça-feira, 26 de março de 2013

Chamas que ardem, chamas que apagam...

Suas mãos se agitavam, na cadeira, tremiam, velhas, ossudas e pintadas de sardas escuras... Balbuciava, olhava o nada, meio cego, ou talvez com os olhos já não mais materiais, não levantou-se, não uniu-se ao grupo de idosos que recepcionavam as crianças, nem sequer olhou para trás, desligou-se, sentado de frente para uma janela imensa que dava ao jardim, lugar que não frequentava havia semanas, a colcha de retalhos sobre as pernas tremia, suava, chorava, babava? O que quer que fosse estava úmido e pálido; dormindo? Não... Estava atento, não se sabe a o que, mas estava...             Elas poderiam ter escolhido qualquer um ali, a senhora de cabelos alaranjados, que distribuía balas, o velho ranzinza cujo desafio entre as crianças era...

-Mamãe?

-Mamãe? – Rompi o véu que me envolvia, que me envolvera durante tanto tempo, que me guardara, que me polira e transformara... Reneguei aquele meu pequeno mundinho, solitário, guardado por mamãe, cuidado e acariciado... Fugi por um instante do aconchego, do escuro, do barulho do vazio e das risadas longínquas de mamãe, da voz de papai, das músicas que embalavam-me... Dos sons do meu coração, dos sons do coração dela... Rompi com minha pequena visão, busquei a luz no final do túnel... Rompi o véu que me guardava, o véu que me educava. – Mamãe? – Eu gritei quando saí... Mas não havia mais ninguém, não havia nada além de luz, não havia nada além de imensos olhos, não havia nada além de sons, não mais corações, mas titaques, mas barulhos de maquinários; não estava mais quente, agora era tudo...

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